segunda-feira, 23 de abril de 2007

Analisando e compreendendo

      A muito tenho me perguntado sobre o que é de fato a vida, o universo e Deus. Tenho tentando em minhas buscas encontrar uma causa para tudo, uma origem ou mesmo, talvez, somente um porquê. Mas nesta jornada me foi mostrado que não é o resultado que importa e sim o quanto você tenta.

      A idéia de simplesmente falar sem expor uma direção, conceito ou religião pode parecer insólita para quem lê, porém, para alguns, é mais que profundo e pode ser, de fato, uma direção. Não que eu seja o guia, mas sim, que o leitor a encontre.

      Quando conheci Danilo me divertia com suas brincadeiras, irreverências e estórias, até poder ser parte desta última. O conhecimento não chega para todos. A vida não é igual para muitos. Decifrar o enigma da vida enquanto nela pode parecer ser uma tarefa mais impossível que árdua. Algumas vezes, sozinhos, sentimos que jamais conseguiremos... Mas nem sempre estamos só...

      A viagem a qual estamos destinados a fazer pode não nos parecer certa, ou mesmo justa. Mas aprenderemos que mesmo assim teremos de fazê-la. Assim Danilo me contava após cada noite, após cada experiência que ele vivia. Acho que, no início, eu as ouvia mais para poder zombar dele posteriormente a que simplesmente entender. Mas mal sabia eu que a mensagem já estava sendo transmitida.

      Algumas pessoas precisam ver, sentir ou mesmo sofrer para começarem. Mas precisamos chegar a este ponto? Sempre pensei em como fazer as pessoas compreenderem a ilusão, para que, assim, pudessem  entender a verdadeira busca ou caminho.

      Para isto, felizmente, pude aprender, com pequenas frases, ao invés de grandes lições. Danilo sempre me dizia que o que você procura bate à sua porta, se você não abrir ela pode simplesmente, para algumas pessoas, passar. Para outras, derrubar a porta.

       Em minha infância costumava muito ir a igrejas, Danilo, meu vizinho e melhor amigo, sempre acompanhava a mim e minha mãe. No início costumávamos brincar enquanto nossas mães assistiam a celebração. Brincávamos e contávamos muitas estórias um ao outro. Ainda me lembro a primeira vez que Danilo começou a contar sobre suas estranhas experiências.

      Eu, alegre como sempre, podia me divertir sobre o pavor de meu amigo, mas com minha alegria eu também podia distraí-lo e, com minha descrença, contar-lhe que nada daquilo existia. Ao passar do tempo, eu pude notar que os acontecimentos os quais ele experimentava o cercavam de tal forma que eu gostaria de estar com ele todo o tempo para ajudá-lo. Eu queria poder combater o que, até então, parecia fazer meu amigo sofrer. Por certo momento, tornamo-nos afastados, eu sempre pensava que aquelas estórias assustadoras que ele vivia a noite ficaram piores e o afastaram de mim.

      Num certo domingo, encontrei meu amigo sozinho no último banco da igreja na missa a qual assistíamos. Corri para perto dele e toquei-lhe o ombro, ele levantou sua cabeça com grandes olhos vermelhos e lágrimas que não paravam de jorrar. Eu, ainda um adolescente, não sabia ao certo o que fazer naquela situação a não ser colocar meu amigo sobre meus ombros e chorar com ele.

      Ao final da missa, pedi um minuto a meu amigo e corri para falar minha mãe para pedir para voltar para casa mais tarde, pois eu voltaria com um amigo. Ela permitiu e voltei para perto de meu querido amigo que tanto parecia precisar me mim.

      Já sozinhos na igreja eu observava o chão molhado, enchidos pelas lágrimas de Danilo, quando meu ele começou a falar a me perguntar algumas coisas como: porque fantasmas somente o assombravam, ou se Jesus a dois mil anos atacou um templo e agora estávamos dentro de um em nome dele e por que a vida para alguns era doce como uma cereja e para outros era amarga como a areia do deserto.

      Apesar de criança e de sempre ouvir alguns questionamentos de Danilo aquela foi a primeira vez em que suas palavras me bateram como um gigantesco bate-estacas. Não sei se pela dor em suas palavras ou por ouvi-las observando seus vermelhos olhos de tanto chorarem.

      Acho que pela primeira vez eu aprendi a ser, ao menos por um momento, adulto. A me importar, a querer saber a ajudar. A partir daquele momento me comprometi a ajudar meu grande amigo. Mas ele já estava sendo ajudado, mesmo sem saber. E já estava anos à minha frente.

      Acho que pela vontade de ajudá-lo passei a ouvi-lo mais, talvez sem mesmo acreditar ou somente para lhe fazer companhia e ouvi-lo como um favor. Ele me contava sobre o que era a vida, os animais, os planos, espíritos, carma etc. Coisas que eu somente talvez fosse ouvir quando fosse um adulto. Todo aquele assunto para mim, assim como ele, recém chegado na adolescência era sem dúvida diferente de tudo.

      Anos passados, Danilo se transforma num um sábio amigo. Eu já não sentia mais dúvidas de quem era o mais velho, mesmo sendo eu, cronologicamente falando, mais idoso. Danilo se superava com suas palavras e compreensões e em alguns momentos, eu infantilmente pensava: "será que ele virou amigo daqueles fantasmas e eles passaram a lhe ensinar tudo isso?"

      Os questionamentos que Danilo dirigia ao espaço e eu atentamente ouvia me despertavam lentamente, mesmo ouvindo sem plenamente entender, suas palavras me voltavam a mente quando eu observava pessoas, animais, comportamentos. Os conhecimentos passados por ele a mim tomavam o espaço dos medos em minha mente e coração. Mas até então eu somente ouvia suas aulas até que, num sonho pude vê-las e senti-las.

      Numa tarde de domingo estávamos no Playground de nosso prédio. Danilo já contava suas estórias a algumas horas e passava-me seus ensinamentos. Ainda me lembro bem, quando, um pouco antes de anoitecer, lhe interrompi e falei: "amigo somente você pode ver tudo isso? Eu nunca poderei também aprender ou fazer?" Ele muito dócil sorriu para mim e deu-me uma resposta fazendo-me mais uma pergunta: "você gostaria de ver?" Eu, sem temer, curioso, disse que sim. Ele respondeu: "então nesta noite você verá por si mesmo. Esta noite nos encontraremos."

      E assim foi. Não sei se por ter sido a primeira, mas aquela foi melhor experiência de minha vida. Vou contá-la rapidamente aqui. Eu estava excitado, mal podia cair no sono, estava extremamente ansioso. Eu ficava me perguntando o que iria acontecer, como iria ser. Depois e quase uma hora esperando, eu não fazia idéia do que esperar ou o que iria acontecer, caí no sono.

      Eu comecei a sonhar como se estivesse no espaço. Mas não conseguia me mover, eu estava emocionado e também um pouco frustrado pela falta de movimento. Olhei para o horizonte e comecei a observar uma nuvem branca crescendo e avançando rapidamente, achei que fosse morrer. A nuvem passou por mim, mas não era nuvem. Era um número inestimável de formas humanóides brancas com grandes feixes de luz. Era como seres humanos esticados, muito estranho. Antes da nuvem toda passar um dos seres me agarra pela cintura e coloca à velocidade em que todos estavam.

      Eu estava voando. O ser, atrás de mim, me impulsionando sorri. Eu perguntei: "Danilo?" O ser diz: "não, mas vou levá-lo até ele. Ele nos falou que viria e marcamos de passar aqui" O ser então aumenta nossa velocidade e adentramos a enorme nuvem branca de seres. Parecia uma migração, uma marcha ou algo grandioso, era maravilhoso.

      Passando a frente de vários seres, eu podia sentir um enorme amor, compaixão e força. Era lindo e eu me sentia muito bem. À frente localizamos um enorme ser de luz, ele parecia conduzir todos demais e sua áurea branca parecia alimentar todos atrás, inclusive eu.

      Ao me aproximar com meu amigo pude notar que era Danilo, não entendi na hora como o havia reconhecido. Ao ficar lado a lado com ele me segurou pela mão e voamos juntos, meu amigo, da carona, deu um alegre sinal de tchau e retornou à formação.

      Danilo e eu sorríamos muito. Naquele momento, me sentia orgulhoso de ter um amigo como ele. O sentimento de amor incondicional, carinho, paz e alegria eram sublimes. A única tristeza que eu podia sentir era imaginar que tudo aquilo uma hora teria de terminar.

      Danilo derrepente fez uma manobra de subida e começamos a subir muito até sairmos da Terra. Ao chegarmos fora da termosfera fiquei vislumbrado ao ver o planeta no qual vivia e que, jamais, vivo, poderia chegar onde estava. A nuvem branca de seres colocava-se a nosso redor e, com um número impressionante, contornou todo o planeta formando um grande anel.

      Danilo, ainda segurando minha mão direita aponta para tudo aquilo e diz: "olha o que o amor pode fazer." Ele sabia que não precisava falar muito, eu já estava por demais de surpreso e contemplava o momento boquiaberto, se assim pudesse ser dito.

      Danilo virava agora para mim e diz: agora vá irmão, nos veremos lá embaixo em breve, sua jornada está apenas começando. Ao soltar minha mão iniciei uma enorme queda como se fosse puxado para baixo por algo o qual me quisesse muito e eu pertencesse.

      Conforme eu descia podia sentir a densificação de meus sentimentos, toda aquela graça parecia ter ficado lá em cima. E os sentimentos terrenos novamente se enchiam em mim. Mas sabia que uma importante parte e estória estaria comigo para sempre, eu retornei feliz e em paz.

      Na manhã seguinte corri ao apartamento de Danilo e o encontrei tomando café da manhã. Ele sorriu e me ofereceu um pão. Eu sorri também e estava eufórico para lhe contar como e ele não soubesse. E quando ele acabou de mastigar me falou: "desculpe, não tê-lo deixado ficar mais." Aquilo me tirou o fôlego ele também lembrava de cada instante lá. Conversamos por horas e horas. Eu podia sentir que, a partir daquele momento, minha vida jamais seria a mesma.

     

 
 
 

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